quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ruas da Amargura de Rui Simões



É uma ocasião feliz e rara para o documentário português pouco habituado a assistir a estreias suas no cenário da distribuição nacional: Ruas da Amargura, obra do veterano e consagrado documentarista português Rui Simões (autor de filmes-charneira para a compreensão da nossa identidade histórica e social como Deus, Pátria, Autoridade ou Bom Povo Português, entre outros), estreou hoje em várias salas e pontos do país, tais como Lisboa, Porto, Coimbra e Almada. Um caso verdadeiramente excepcional quando sabemos que o documentário português dificilmente consegue chegar às salas de cinema do país e muito menos se permite a uma distribuição tão ampla como a que neste exemplo dá para perceber se pretende atingir (pois se já é raro conseguir espaço de exibição em cidades como Lisboa ou Porto, pior se torna quando se procura expandir para fora desse âmbito numa mesma data).

O filme que esteve presente o ano passado na Competição Nacional do doclisboa 2008 não só chega num contexto e numa época totalmente pertinente ao fenómeno que aborda (18% de pobreza em Portugal é razão suficiente para que o cinema sirva de campo de reflexão sobre um dos dramas do país) como é ainda um retrato profundo e impressionante sobre a integração da pobreza na nossa sociedade, assim como uma viagem à face mais visível e terrena dessa realidade através de quotidiano e da vivência de diversas personagens. E há dois factos que urge redescobrir com Ruas da Amargura (e que só por si deveriam ser razões suficientes para pôr toda a gente a correr para a sala de cinema a comprar bilhete): a revelação, cada vez mais consciente e presente, da força e qualidade do documentarismo português, e o confronto com o panorama da pobreza, questão a que já não dá para fugir nem fingir que não se vê e com o qual nos cruzamos todos os dias. Não costumamos dizer isto de muitos filmes, mas este é mesmo um filme obrigatório.

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