terça-feira, 23 de junho de 2009

Do Fundo do Coração: um belo e genial desastre


Também para Francis Ford Coppola (um dos maiores nomes da geração "movie brats" que no post abaixo citámos), nada foi como dantes, sobretudo depois desta obra: Do Fundo do Coração (1982), o objecto que começou e acabou com a "fábrica de sonhos" Zoetrope idealizada pelo cineasta americano e através da qual arriscou não só a sua independência artística e financeira, mas onde também procurou reavivar o velho sistema de estúdios norte-americano, fazendo uso de uma maior economia de recursos humanos, equipamentos e tecnologia - mas que teve precisamente o efeito contrário: de um budget inicial de 2 milhões de dólares o projecto disparou para uns insustentáveis 28 milhões -, isto num cenário que se pretendia adaptado à revolução electrónica que o próprio anunciava para o cinema.

Foi uma história de megalomania (só o genérico custou cerca de 4 milhões de dólares) e que levou Coppola à bancarrota; a partir desse desfecho tudo o que fez serviu apenas para saldar as dívidas acumuladas (Os Marginais, Cotton Club, O Padrinho III, Drácula de Bram Stoker e Jack contam-se entre essas tentativas). Nesta simples história de amor protagonizada por Frederic Forrest e Teri Garr nos subúrbios de uma Las Vegas simulada, tudo é de cartão e papel, plástico e néon: inteiramente rodado em estúdio (o mesmo de onde anteriormente a clássica Hollywood já tinha visto sair títulos como O Ladrão de Bagdad ou lendas como Howard Hughes haviam filmado) estamos perante uma verdadeira fantasia visual a que não se fica indiferente e que faz do grande ecrã um enorme e belo campo de expressividade povoado de cores e imagens surreais.

Incompreendido na sua época (tanto pela crítica como pelo público), Do Fundo do Coração não é a "desgraça" com que o pintaram e ao longo dos anos foi ganhando uma "patine" e um encanto que o tornam hoje num dos mais fundamentais objectos de culto da Sétima Arte; além de constituir uma obra essencial para a compreensão do talento e do percurso do realizador de Apocalypse Now. Talvez Coppola tenha cometido um pecado: pedir a Hollywood que tornasse a ser a Hollywood que ele próprio e os seus "compagnons de route" haviam destruído. Era pedir demais. Ou acima de tudo, foi tarde demais.

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