sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson (a eterna criança)



Todos nós tivemos de uma forma ou de outra uma relação com a figura, a imagem e a música de Michael Jackson; e eu pertenço inevitavelmente àquela geração que cresceu sob a sua influência durante os anos 1980, não só graças ao peso crescente da MTV nessa época (embora esta só tenha chegado ao nosso país mais tarde nos anos 1990 a verdade é que os ecos do canal faziam sentir-se na nossa televisão pública e imprensa), mas também pelo facto de os seus temas serem irresistivelmente cativantes para quem, como eu, vivia o período da infância. Michael Jackson era nesse tempo uma personagem fascinante para qualquer miúdo: o mundo de fantasia, pleno de expressividade, cor e movimento, ambientado por temas que por muito tempo perdurarão como objectos fundamentais na construção da história pop eram tão evidentes e intransponíveis como uma lua cheia numa noite limpa de nuvens.

Lembro-me, por exemplo, dos lançamentos dos seus videoclips mais famosos com honras de verdadeiro acontecimento televisivo: Thriller (feito por John Landis, o realizador de Um Lobisomem Americano em Londres, que me causou um profundo terror: durante dias não esqueci a imagem de Michael Jackson a metamorfosear-se), Bad (concretizado por Martin Scorsese no "subway" nova-iorquino e que ilustrava um tema caro ao cineasta italo-americano: a luta entre gangues no clima pós-Reagan) ou Black or White (que vinha assinalado pelo uso inovador de efeitos especiais na famosa sequência da sobreposição de caras: além da mensagem multi-étnica e multi-cultural podíamos ler ali ainda o apelo universal da sua música). Recordo-me igualmente de ver no cinema Moonwalker, um musical pop elevado ao grande ecrã como um imenso videoclip MTV e que combinava exuberantes elementos populares da Sétima Arte (desde o filme noir na cena de Smooth Criminal à ficção científica mais spielberguiana) com a colagem de imagens de promoção ao álbum Bad (1987) - cheguei mesmo a paginar uma pequena revista sobre o filme, com histórias e fotografias que mais tarde fotocopiava para oferecer aos meus amigos.

No capítulo das músicas preferidas (porque todos nós temos uma), posso dizer que aquela que hoje mais me marca é Wanna Be Start'in Something, tema de abertura de Thriller (o disco mais vendido de sempre), mas poderia eleger afinidades com outras como I Want You Back (Jackson 5), Smooth Criminal, Human Nature ou Don't Stop Till You Get Enough (cada uma delas por diferentes razões e circunstâncias que têm a ver com as nossas próprias experiências pessoais e temporais). De Michael Jackson muito se tem falado a respeito da sua infância aprisionada, das suas excentricidades pessoais, dos seus escândalos mediáticos, mas há um facto que a todos parece indesmentível: o perfil de eterna criança que vivia dentro de si (e dentro de um corpo cuja degeneração suscitava todo o tipo de rumores e apreciações) confirmava a tragédia de alguém que se recusara a crescer. Para todos nós que guardam um pouco dessa criança e para todos aqueles que um dia reivindicaram, como ele, a sua parte da Terra do Nunca, a lua apagou-se.

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