"Filme como sonho, filme como música. Nenhuma outra forma de expressão artística é capaz de, como o cinema, vir ao encontro dos nossos sentimentos, penetrar nos recantos mais obscuros da nossa alma. E tudo graças a um efeito de choque no nosso nervo óptico: vinte e quatro quadradinhos por segundo, iluminados, separados pelo escuro que o nosso nervo não regista. Quando me sento à mesa de montagem e passo a fita, imagem após imagem, ainda sinto a sensação arrepiante, de magia, dos meus tempos de criança: lá dentro do escuro do guarda-fato dava à manivela devagar e via passar as imagens, umas atrás das outras, reparava nas quase imperceptíveis modificações, depois dava à manivela depressa e pronto, elas moviam-se!
Esta sombras, mudas ou sonoras, voltam-se abertamente para os recantos mais secretos que existem em mim. O cheiro a metal aquecido, a imagem vacilante, o barulho do mecanismo, a sensação de segurar a manivela..."
Ingmar Bergman
in Lanterna Mágica (1987)
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