segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Shortbus de John Cameron Mitchell


Termina hoje o ciclo de cinema Sexo: O Último Tabu no CCC das Caldas da Rainha com o filme Shortbus de John Cameron Mitchell, uma das obras mais recentes de todas aquelas que completaram o programa e porventura a que nos apresenta um olhar mais bem-humorado e descomplexado sobre a própria temática (sem que com isso deixe de ser um título que trate das questões mais complexas do sexo com a mesma profundidade e agudeza que os anteriores). Contudo, Shortbus é um filme diferente na abordagem e no estilo: mais divertido, mais livre, mais desassombrado e menos dramático, menos grave, menos sombrio. Um filme que tem a capacidade de não se levar muito a sério (o que lhe dá uma ligeireza sedutora que nunca, mas nunca, se transforma em condescendência). A dada altura, uma das velhas personagens que compõe a clientela do clube que dá o nome ao segundo opus da carreira de Cameron Mitchell diz: "Nova Iorque é o sítio para onde as pessoas vêm para ser perdoadas". Poderia ser também uma boa definição para o filme e para as personagens que o integram, sendo aqui o "perdão" um aspecto importante no capítulo que o desejo representa para estas pessoas que procuram simplesmente ser felizes num mundo que por vezes lhes é adverso. Mas uma coisa é certa, mais do que o sexo ou a sua explicitação no grande ecrã, chegamos aqui para perceber que tudo se resumiu no fundo a isso: à busca da felicidade e do amor.

sábado, 29 de agosto de 2009

A estreia de Moon



Gostávamos de juntar a nossa voz à do Nuno Galopim que no blogue Sound & Vision tem andado a pedir a estreia entre nós de Moon (filme de estreia de Duncan Jones que parece vir recheado de grandes referências da ficção científica e que ao que consta oferece ainda um grande desempenho de Sam Rockwell). Não é pedir muito, ainda mais no ano em que se comemoraram as celebrações da ida do Homem à lua e quando são tão raras as estreias de ficção científica (e mais raras ainda aquelas que anunciam serem obras de qualidade). Já pusemos a hipótese de inaugurar no facebook uma daquelas causas a exigir "queremos a estreia de Moon nas salas de cinema portuguesas" na esperança que o movimento convença algum distribuidor. Só que não temos paciência para isso: um filme deve valer por si próprio e não viver a reboque da condescendência alheia. Se o Nuno nos adverte que o filme de Duncan Jones é a melhor "sci-fi" que viu desde Gattaca e Dark City (então e o Solaris do Soderbergh?), nós acreditamos.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vem aí a versão negra d'O Feiticeiro de Oz


A Warner Bros anda por aí anunciar uma versão negra do clássico de Victor Fleming O Feiticeiro de Oz e uma das opções em cima da mesa para interpretar o papel principal parece ser a actriz Dakota Fanning. Segundo o Guardian, há mais novidades: a acção da história passa para a nossa actualidade e em vez de termos Dorothy como a personagem central será a sua neta a tomar as rédeas do enredo. O que quer dizer (detalhe importantíssimo) que não estamos perante um remake, mas sim de um "upgrade". Mas não um "upgrade" qualquer, já que um dos produtores, Todd McFarlane, insiste no "dark side" desta versão: "continuamos a ter Dorothy presa num lugar estranho, mas ela está muito mais próxima da personagem Ellen Ripley de Alien: O 8.º Passageiro do que da jovem e indefesa rapariga que canta." Medo, tenham muito medo.

Uma história de piratas


Steven Spielberg vai adaptar ao cinema uma história de piratas baseada no último livro de Michael Crichton: peça que o escritor e realizador norte-americano deixou por terminar após ter falecido o ano passado. Pirate Latitudes (é este o título da obra inacabada) é uma história que anda por volta do ano de 1665 e tem como cenário a costa jamaicana. Claro que não é só isto: há um galeão espanhol carregadinho de ouro e um plano para atacar os seus porões (como não podia deixar de ser). Mas o mais interessante no seio deste projecto é que Spielberg volta a escolher o argumentista David Koepp (na imagem acima) para trabalhar no guião, reeditando uma relação que conheceu episódios bem sucedidos em Parque Jurássico e Mundo Perdido (também adaptações de livros de Crichton) ou Guerra dos Mundos e Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (na nossa modesta opinião um dos filmes mais inteligentes dos últimos anos e não apenas um entretenimento de época). Crichton, Koepp e Spielberg: uma fórmula que promete não falhar. E ainda há os piratas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Breillat e a polémica de Braga


Já agora, lembram-se da polémica que estalou há uns tempos em Braga, a respeito de um livro que expunha os meninos daquela cidade aos perigos "púbicos" de uma imagem capaz de revelar de forma absolutamente frontal e despudorada as virtudes do órgão sexual feminino? O acontecimento chegou a ser notícia de abertura nos noticiários televisivos e demonstrou bem a compulsão pidesca de alguma da nossa polícia: tratava-se de uma pintura de Gustave Courbet (A Origem do Mundo, 1866) reproduzida na capa de Pornocracia, livro de Catherine Breillat que a PSP de Braga apreendeu na feira do livro local com a desculpa de se estar perante um sério “perigo de alteração da ordem pública”.

Na altura, os diligentíssimos agentes decidiram-se por isto: apaziguar a moral ofendida de alguns pais incapazes de lidar com a "perversa" curiosidade dos seus filhos em troca da liberdade de expressão e do direito de venda daquele título num espaço perfeitamente adequado a isso. Isto apenas para dizer como este é um dos pequeníssimos exemplos da capacidade que Breillat tem de estimular a controvérsia, mesmo quando não quer, mesmo quando nada tem a ver com a história.

Romance de Catherine Breillat


Hoje temos mais um filme do ciclo Sexo: O Último Tabu que tem vindo a decorrer no Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha sob a nossa chancela: Romance é apresentado pelas 21h 30 e é um filme bem à imagem da sua realizadora, Catherine Breillat, controverso, visceral, excessivo, uma obra onde as fronteiras entre o pornográfico e a expressão do cinema como arte transgressora estão sempre a ser postas em causa (foi essa polémica que lhe valeu aliás no ano da sua estreia alguns problemas com a distribuição em França) e cujas imagens de sexo explícito (Rocco Sifredi, acima na imagem, e um dos mais afamados actores da indústria pornográfica, chega mesmo a ter um papel seu onde mostra parte dos seus "dotes") criaram um natural "hype" à volta.

Mas a controvérsia aqui é mais pretexto, também, ou sobretudo, para expor uma história sobre o desejo feminino que prefere apontar à visão daquilo que constitui a intimidade de uma mulher na sua busca de várias formas de prazer e na consumação dos seus desejos, tanto como na construção e descontrução de uma identidade feminina face a esse percurso. Mas o importante talvez seja dizer isto: o escândalo, a existir, nunca está do lado de Breillat e da sua personagem - e é por isso que Romance consegue escapar ao puro sensacionalismo que muitos quiseram ver nele -; a estar, ele estará sempre do lado do público que nesse campo só pode ser juíz e vítima dos seus próprios preconceitos (escolha que, apesar de tudo, a realizadora francesa tem o mérito de deixar do nosso lado).

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

15 minutos de Avatar


E aí estão as primeiras reacções a uma amostra de 15 minutos de Avatar que James Cameron decidiu apresentar como aperitivo para a estreia do filme (que só chega em Dezembro, pouco antes do Natal): ao que parece as imagens 3D são mesmo monumentais e a recriação de todo um novo planeta (a par das paisagens, da fauna e dos seres que o povoam) traz, segundo artigo do Guardian, uma exuberância visual nunca vista. Consta que há ainda por ali uma certa agenda ambiental na forma como a história aborda a exploração deste novo mundo extra-terrestre através de uma missão que busca os seus recursos naturais. Mas uma das privilegiadas espectadoras lá vai alertando: eles não parecem estar a promover a "história", eles parecem estar a promover o "3D".

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Michael Mann: o último dos moicanos


Dos três filmes onde Michael Mann abraçou as câmaras digitais, talvez Inimigos Públicos seja aquele que menos nos conseguiu entusiasmar, mas há um aspecto que se mantém no percurso deste realizador de quem não temos dúvidas em considerar como um dos grandes cineastas da actualidade: a sua dimensão clássica, o seu olhar perante uma personagem e a narrativa em que se integra e o peso que cada imagem sua ganha à medida que a história prossegue. Isso acontece em Inimigos Públicos, tal como acontecia nos seus dois mais recentes filmes: Colateral (2004) e Miami Vice (2006). E à semelhança de Heat - Cidade Sob Pressão (1995), O Último dos Moicanos (1992) ou até mesmo O Informador (1999), Mann volta a captar aqui, e com peculiar fascínio e atenção, a figura do acossado, não como um puro retrato romântico do "marginal", antes como último representante de uma velha linhagem, um animal em extinção, símbolo do fim de uma era e de uma tradição. À sua maneira, Mann filma também um pouco aquilo que ele é: um dos derradeiros intérpretes do classicismo no cinema.

The most expected trailer of the year!



E aí está, muito provavelmente, o mais aguardado trailer do ano, o filme que tem sido por muitos anunciado como uma das maiores revoluções tecnológicas da Sétima Arte - não por reincidir apenas na técnica do 3D, mas por trazer consigo a promessa de elevar o 3D a uma dimensão nunca antes vista até aqui -, a mais recente megalomania de James Cameron (cineasta que sempre se soube superar nesse caderno de encargos), e a qual, segundo rezam as vozes dos seus colaboradores mais próximos, tem tudo para originar entre nós um novo conceito de cinema. Vamos ser sinceros: desconfiamos muito desta ideia de que é do 3D que depende a salvação do cinema e, mais do que isso, que ao cinema se tenha de sobrepor sempre uma ideia de tecnologia. Mas Avatar não deixa por isso de ter uma carga enigmática e simbólica interessante, um certo sentimento de transformação e metamorfose que não víamos há muito acontecer no campo da produção cinematográfica, e até uma certa imagem de esperança onde as imensas possibilidades da imaginação e da fantasia voltam a ter um espaço a ocupar no nosso imaginário colectivo. O filme estreia a 18 de Dezembro.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

They're coming! They're coming!



E aqui está um exemplo daquilo que perdemos em humor e em trailers. De alguém que sabia o que era o humor e o que era o cinema. Isto a propósito de Sir Alfred Hitchcock e do post abaixo que chegou com 5 dias de atraso. Já agora, este é o nosso filme preferido do "mestre". "They're coming! They're coming!"

110 anos e 5 dias


Sabemos que estamos um pouco atrasados, mas não queríamos deixar passar a data em claro (e o "mestre" não nos há-de levar a mal por isso): Alfred Hitchcock faria hoje 110 anos e 5 dias (nasceu a 13 de Agosto de 1899), mais coisa menos coisa. Como as crianças que adoram ser assustadas, sem preconceito de experimentar os deliciosos "horrores" de um qualquer susto e com aquela absoluta sabedoria que as leva a sentir o medo como uma emoção da vida, o cineasta britânico levava-nos a viver o "suspense" das suas intrigas como um meio para sublinhar o grande poder de ilusão do cinema. É dos gestos mais "vivos" que nos deixou, é dos melhores sentimentos a que nos apetece voltar. Nesta vida gostamos de ser assustados, é um facto. E ele fazia-o melhor do que ninguém.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Há um filme adulto num filme de animação


Já sabíamos, e desde há muito, que a Pixar era uma das grandes herdeiras da tradição mais clássica e popular do cinema; não apenas um estúdio de animação, mas um estúdio que ao longo dos anos e desde Toy Story foi capaz de evocar a virtude mais primordial da Sétima Arte em colocar uma história, uma narrativa e as suas personagens ao serviço das grandes emoções humanas, ao serviço tanto do entretenimento e da componente mais popular do cinema, mas também como motor de uma reflexão mais profunda sobre a vida e a existência do indivíduo. Sempre que olhamos para ali vemos um pedaço da História do Cinema, aliás, um dos "melhores pedaços" da História do Cinema, onde tanto cabe o legado de figuras tão intransponíveis como Chaplin e Keaton, entre muitos outros, como as grandes questões que interessa colocar no nosso tempo (ou em qualquer tempo). Podemos arriscar dizer que não há um filme mau da Pixar, e sobretudo temos em muita boa conta obras como Os Incríveis ou Wall-E que insistimos em considerar autênticas obras-primas.

Agora que temos Up -Altamente!, a mais recente "maravilha" saída das cabeças do estúdio que revolucionou o panorama da animação cinematográfica desde há uma década, descobrimos ainda ali um dos momentos mais perfeitos da produção contemporânea, perfeitamente simbólico das carências do nosso tempo e ao mesmo tempo o epítome das qualidades criativas e artísticas dos senhores da Pixar. Os minutos iniciais de Up - Altamente! (não os contamos, mas serão cerca de dez a quinze minutos) são das melhores coisinhas que já observamos numa sala de cinema: um filme adulto dentro de um filme de animação, um filme adulto numa sala de cinema onde cada vez mais se impedem de entrar filmes adultos. Naquela história de uma vida, naquele retrato de um homem nascido numa época e esmagado por outra, naquela viagem de sonhos e frustrações, de conquistas e perdas, de partilhas e ausências, está um dos melhores momentos do ano.

Pura síntese narrativa e um equilíbrio formal e emocional que bate aos pontos (e de caras) 99 por cento de toda a oferta que a distribuição insiste em impor-nos recorrentemente. Up- Altamente! é isto e muito mais: um cruzamento entre o Gran Torino de Eastwood (como muito bem refere o crítico Luís Miguel Oliveira) e o Indiana Jones de Spielberg, uma aventura lírica e filosófica que incui como cenário o encontro e desencontro entre gerações, uma revitalização dos valores fundamentais do cinema. Está ali cinema, portanto. E isso fazia-nos muita falta.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Apocalipse confirmado (são só mais 5 biliões de anos)


Não, a culpa não é só do aquecimento global: o Apocalipse tem mesmo data marcada (isto se não dermos cabo do planeta antes) e o culpado é o sol que, segundo, a revista New Scientist tem um pequeno probleminha de temperatura. É certo que ainda faltam cerca de 5 biliões de anos para a coisa começar a aquecer (literalmente), mas é boa altura para começarmos a pensar noutro cantinho do Sistema Solar para viver, até porque mais cedo do que se imagina, e aqui o prazo reduz-se para pouco mais de 1 bilião de anos, vamos ter temperaturas médias à volta dos 50 graus centígrados (é como se de repente isto tudo virasse o deserto Sahara) com os oceanos a chegarem ao ponto de evaporação. Também é boa matéria para um guião cinematográfico e não deixa de ter alguns finais alternativos: alguns cientistas vão afirmando que a solução pode passar por emigrarmos para Vénus ou Marte, ou então alterar a órbita terrestre em 30 por cento.

Apocalipse agora


Como nós tínhamos reparado (e isto não tem só a ver com o facto de andarmos a ler Cormac McCharthy, embora ajude), também o Guardian já percebeu que as mais recentes visões apocalípticas que o cinema nos tem oferecido (e ainda vai oferecer, basta relembrar que 2012 de Roland Emmerich está a caminho) não são apenas produções tontas e desejosas de dar cabo do mundo com invasões exterrestres, catástrofes naturais, colisões de cometas ou afins, e encher o bolso com isso (mas também não metemos a mão no fogo). Estas podem ser (e normalmente são) representações da ansiedade que vivemos nos tempos de hoje: tempos de mudança, como sabemos (a globalização, a crise económica, a lista do costume). Sublinhamos algumas ideias:

"Suddenly the Apocalypse is in fashion."

"Most of us seem to seek mental relief by drowning ourselves in a sea of doom and gloom for a couple of hours. The experience can be some sort of catharsis."

"(...), experts say the trend towards apocalyptic thought does not only reflect anxiety over a difficult period of history but, just as important, changing times. Indeed it is often the concept of change as much as the concept of destruction that triggers popular interest in apocalyptic themes, (...)."

Quanto ao resto do artigo, by Paul Harris, podem dar uma vista de olhos aqui.

domingo, 9 de agosto de 2009

I belong where I am


"Well, I always feel I belong where I am."

James Stewart em O Homem que Veio de Longe (The Man From Laramie, 1955) de Anthony Mann

sábado, 8 de agosto de 2009

Raúl Solnado (1929 - 2009)


Raúl Solnado morreu hoje, aos 79 anos, no Hospital de Santa Maria de Lisboa. Era um homem de olhos expressivos e gestos largos, um homem que nos fazia rir, um homem de quem devemos ter por aí umas cassetes de humor que nos animavam a infância e de quem adorávamos aquele maravilhoso sketch d'AGuerra de 1918. Para a eternidade ficam as gargalhadas que eles nos deixou por dentro.

(na imagem uma cena de Dom Roberto, filme de Ernesto de Sousa, por muitos apontado como a obra percursora do Cinema Novo Português que contou nos papéis principais com Raúl Solnado e Glicínia Qaurtin)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fucking!



De John Hughes recordamos com especial carinho uma comédia onde contracenavam dois dos grandes actores norte-americanos da sua geração: Steve Martin e John Candy (este último, infelizmente, já desaparecido entre nós de forma muito precoce). O filme chamava-se Antes Só que Mal Acompanhado (no original Planes, Trains & Automobiles) e não tinha nada a ver com adolescência; era sim o périplo desgraçado de um executivo (Martin) que tenta chegar a casa a tempo do Dia de Acção de Graças, mas dá sempre de caras com obstáculos e um irritante vendedor (Candy) que durante toda a viagem lhe faz os nervos em franja. À superfície é uma comédia tonta e destrancada, mas há uma dimensão de absurdo e non-sense digna dos irmãos Marx e um lado muito Capra ligado ao espírito natalício em que a acção decorre (talvez seja, se é que podemos ir por aí, o It's a Wonderful Life de John Hughes).

Tem sequências absolutamente hilariantes e o final, de que nos lembramos bem, é bastante comovente: num verdadeiro plano de aceitação do "outro", Martin convida Candy a passar as férias em sua casa e junto à família, depois de todas as tropelias vividas por sua culpa (uma sequência, diríamos, construída no mais puro estilo dickensiano e depois de se descobrir que Candy não passa afinal de um homem solitário, sem família e sem lugar onde passar o Dia de Acção de Graças). O filme é considerado por alguns críticos a comédia mais adulta de Hughes e depois disso já foi votada como uma das dez melhores no seu género. Numa das suas cenas mais famosas e recordadas (a qual podemos ver acima), Martin diz 18 vezes a palavras "fucking" frente à funcionária da empresa de aluguer de carros após o serviço ter falhado.

Scott, Di Caprio, Huxley & Nichols


E cá estamos de volta a Ridley Scott: o realizador britânico, cujo nome foi indicado para regressar a mais um novo episódio da série Aliens (desta vez uma prequela do filme original que inaugurou a saga e que promete desvendar tudo o que aconteceu à nave que a equipa de Ripley descobria no início desse clássico do cinema), torna a ser apontado como líder de um projecto na área da ficção científica ao lado de Leonardo Di Caprio. Trata-se da adaptação de Admirável Mundo Novo, a mítica distopia literária escrita por Aldous Huxley - o que é curioso: Scott que não entrava pelo universo da ficção científica desde Blade Runner: Perigo Eminente, obra de 1982 (foi um fracasso de bilheteira, talvez isso explique o "trauma"), investe agora em duas produções do "ramo" que não deixam de desenhar óbvias tangentes às obras predecessoras (se por um lado Alien convoca mais uma vez o filme que o revelou ao mundo, por outro Admirável Mundo Novo é tal como Blade Runner um objecto que retrata uma sociedade futurista decadente). Na escrita do argumento temos Andrew Nichols, um "expert" na matéria das distopias e das sociedades vigilantes; basta relembrar que foi o autor do argumento de The Truman Show: A Vida em Directo e o realizador de Gattaca.

Scott, Di Caprio, Huxley e Nichols é uma fórmula que promete.

John Hughes (1950 - 2009)



John Hughes morreu ontem, dia 6 de Agosto, aos 59 anos. Desaparece assim, ainda com uma "jovem idade", o cineasta que filmou com peculiar fascínio a "jovem idade" da adolescência: filmes como O Clube ou O Rei dos Gazeteiros, provavelmente os mais famosos e acarinhados entre nós, ficam para a história como retratos pertinentes da "teen culture" dos anos 1980 - obras que em muitos deixaram a sua aura de culto e uma marca profunda a rimar com as "dores de crescimento" vivida pelos jovens dessa época. Não foi por acaso que chegou a ser alcunhado como "o filósofo da adolescência": Hughes não filmava a juventude apenas para obter os seus efeitos mais lúdicos ou imediatos, fornecendo-lhe também uma profunda marca existencial radicada nos processos de transformação da passagem à vida adulta e sobre o abandono da inocência. O seu sucesso junto do público, sobretudo jovens (embora não só), explica-se por esta capacidade de o realizador conseguir mais do que uma visão contemporânea dos dilemas e das angústias juvenis, exprimir ainda uma forte herança clássica no tratamento de tais temas. Talvez haja quem o veja, apesar de tudo, como um cineasta menor - mas quem nos dera que todos os cineastas menores fossem como ele.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A prequela de Alien volta a Scott


Ridley Scott vai afinal realizar a anunciada prequela da saga Aliens, contrariando a ideia que o colocava apenas como produtor do projecto que inicialmente tinha a cadeira de realizador entregue a um novato da pulicidade televisiva: Carl Rinsch (parece que a 20th Century Fox não esteve para arriscar com um estreante e exigiu a Scott que tomasse definitivamente as rédeas). Na nossa opinião, não podia estar em melhor mãos, pela razão simples de que continuamos a considerar o primeiro Alien, entre nós sub-intitulado O 8.º Passageiro, como o melhor de todos.

Primeiro, porque foi aquele que melhor soube maximizar o potencial "suspensivo" da imagem do monstro alienígena (se bem se lembram, o Alien apenas se mostrava em toda a sua imponência bem no final, na mítica cena em que se debate com a única sobrevivente interpretada por Sigourney Weaver) - lembramo-nos de Alien: O 8.º Passageiro menos como um filme de ficção científica, mas mais como um thriller noir de terror psicológico (e "noir" talvez seja a palavra certa para resumir a memória que deles temos: um filme a preto e branco, sobretudo, onde as sombras e o suspense definem o verdadeiro jogo do rato e do gato em que se transforma a história daquela nave que dá de caras com um estranho e fatal ser extra-terrestre).

Segundo, porque Ridley Scott já deu provas de que o terreno da ficção científica é matéria que manuseia com destreza e mestria: a sua última aventura neste campo continua a ser o memorável Blade Runner: Perigo Eminente. O novo episódio recua precisamente até aos acontecimentos decorridos antes do filme inaugural e conta na escrita do argumento com o nome de Jon Spaihts, considerado o argumentista do momento no domínio da ficção científica. Só não queremos que se repitam os casos abjectos de Jean-Pierre Jeunet ou as abusivas explorações comerciais que constituíram os Aliens Vs. Predator.

Para nós, o Alien continua a ser essa espécie de "femme fatale" alienígena, misteriosa e negra, venenosa e mortal, esguia e curvilínea, que só se mostra no instante mais extremo do fantasma que invoca: a Morte.

Heath Ledger's Last Video



É um objecto particularmente curioso e evocativo: mais de um ano após a morte do actor Heath Ledger descobrimos um projecto de animação realizado pelo actor para o tema King Rat da banda americana Modest Mouse. O trabalho serve, no fundo, de vídeoclip para a canção e retrata de forma abertamente crítica a pesca ilegal de baleias na costa australiana, invertendo neste caso os papéis - os humanos tornam-se os perseguidos e as baleias os perseguidores - com resultados no mínimo "explosivos". Na altura da morte de Ledger, o trabalho ainda não estava terminado, tendo sido finalizado mais tarde pelos seus colegas do colectivo The Masses com quem iniciara a produção. Quem comprar a canção através do iTunes estará ainda a contribuir para a Sea Shepherd Conservation Society.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Post #100 e o Verão Quente nas Caldas



Primeiro de tudo: este é o nosso post n.º 100, facto que merece uma pequena comemoração (já não estamos no ciclo básico onde desenhávamos o número da lição a giz no quadro, mas se tivéssemos uma ardósia era o que faríamos) e uma nota sincera de auto-satisfação (é preciso lembrar que um dos grandes problemas dos blogues passa por essa coisa vital que chamamos de manutenção, razão porque estamos muito contentes por ainda andarmos por aqui).

Em segundo lugar: estamos a entrar no nosso "Verão Quente" das Caldas que, por outras palavras, é o mesmo que dizer que hoje se inicia no CCC o ciclo de cinema Sexo: O Último Tabu, programa que durante todo o mês de Agosto propõe alguns dos títulos que nos últimos anos melhor analisaram a visão do sexo no grande ecrã. Não se trata de "pornografia", embora haja sexo explícito, e não se trata de "erotização", embora haja corpos despidos, aqui o que se pretende mostrar é o que certos autores consagrados fizeram no cinema (ou no "seu" cinema) pegando num dos últimos tabus a ser quebrado no mundo da Sétima Arte.

Intimidade de Patrice Chéreau pode bem ser hoje, pelas 21h 30, no Pequeno Auditório, o melhor exemplo do risco tomado por um realizador de créditos firmados num campo normalmente minado tanto por preconceitos morais e éticos como pelo puro exibicionismo físico e artístico. Trazer o sexo para a tela é entrar num território onde os limites entre o brejeiro e o visionário podem ser muito ténues. Mas Chéreau, conseguiu manter as distâncias e fazer de Intimidade um filme com o exacto peso e a exacta medida que o título simboliza, sem oferecer um espectáculo gratuito e primário da importância das relações sexuais e a sua influência nas vidas mundanas dos seres humanos que somos.

É uma obra de forte "intimismo" sobre dois amantes que desconhecem a dimensão social que cada um deles tem fora do apartamento onde se encontram (à socapa para satisfazerem os seus desejos sexuais) e que olha à lupa essa relação como um percurso de sede de afectos e de verdadeira descoberta (íamos dizer "penetração") no universo emocional e sentimental das suas personagens. Além de ter vencido o Urso de Ouro do Festival de Cinema de Berlim em 2001, este foi ainda o primeiro filme de Patrice Chéreau em inglês.

domingo, 2 de agosto de 2009

As melhores referências


Fomos ver ontem A Idade do Gelo 3: Despertar dos Dinossauros: não é só mais um óptimo episódio desta saga de animação, mas um universo juvenil de citações e referências literárias (do Moby Dick de Melville à Viagem ao Centro da Terra de Júlio Verne, passando pelo Mundo Perdido de Conan Doyle, mais umas pitadinhas de Chaplin, Buster Keaton e Parque Jurássico de Spielberg) - assim de repente foi o que anotamos.