quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ainda há cinéfilos?


Há uns tempos, em jeito de brincadeira e provocação, lançámos uma interrogação através do nosso twitter que começava por questionar o seguinte: ainda há cinéfilos? A questão persegue-nos desde há uns tempos e o tempo suficiente para perceber que a crise de cinefilia vivida hoje em dia ainda nos deixa um pouco assombrados: de facto, cinéfilos como antigamente, capazes de se mobilizarem e viajarem, de facto, até à sala de cinema (isto no contexto da província, acreditamos que em Lisboa a Cinemateca ainda vai dando bem conta do recado, apesar de esquecer o resto do país) já não existem realmente (ou não existem muitos, pelo menos).

Mas a experiência da *aurora uma coisa nos tem ensinado: se são cada vez menos os cinéfilos (os cinéfilos de "casa" para nós não entram nestas contas: onde está a disponibilidade para a sala de cinema, para a película de 35 mm, para o debate e discussão, para a partilha de vozes e opiniões no átrio?) os espectadores de cinema, sabemos, existem. E que tal como os filmes, os autores e as filmografias, continuam diversos entre si, interessados, atentos e a manter aquela sede de conhecimento que, essa sim, contém a semente do que é a verdadeira "cinefilia".

É uma crítica com a qual muitos não poderão vir concordar, mas temos a sensação que o "cinéfilo" dos nossos dias é menos um espectador de cinema e mais um consumidor de títulos remotos e relativamente estrambólicos que a maioria das vezes não saem da sua exclusiva colecção de DVD milimetricamente arrumada nas prateleiras. Podem chamar-nos conservadores ou reaccionários e virem dizer-nos que o cinéfilo não se restringe actualmente apenas à sala de cinema, que os novos formatos e as novas plataformas de comunicação são igualmente campos de cinefilia (o que até um certo ponto concordamos: sem deixar de afirmar que mesmo assim isso não impediu de trair as receitas da indústria e em consequência pôr em causa a própria produção cinematográfica).

Contudo, no mundo sem regulação que tem caracterizado a Internet (e essencialmente num mundo que reduz a maioria das vezes o cinema a uma pura lógica de consumo cibernético) a Sétima Arte deixou de respirar a experiência de tempo que a caracteriza (e de gerar uma sentida reflexão e partilha de opiniões que aspirem a mais do que o habitual "bitaite"). É por isso que ainda estamos de certo modo à espera que os "cinéfilos" sejam mais "espectadores de cinema" e que saiam das suas tocas como acontecia no passado não apenas para observar os filmes, mas para nos contarem o que observaram. Não estamos a pedir muito, pois não?

(na foto Henri Langlois, uma lenda da cinefilia, fundador da Cinemateca Francesa e pioneiro na preservação da memória do cinema)

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