sábado, 2 de maio de 2009

"O Último Tango em Paris" continua parte da revolução


Quando estreou entre nós em pleno período revolucionário (tal como o 25 de Abril, há exactamente 35 anos atrás), O Último Tango em Paris chegava com cerca de 3 anos atrasados; o que não o impediu de constituir uma das primeiras formas de liberdade de expressão (senão mesmo a primeira) num país que não conhecera outra coisa que não a censura e que vira este filme, tal como muitos outros (por exemplo Laranja Mecânica de Kubrick), proibido pelo regime. A sua passagem pelos cinemas tornou-se, portanto, um verdadeiro símbolo de uso da liberdade conquistada dias antes, bem expresso pelas vagas de espectadores que desejavam concretizar no seu visionamento (as casas cheias repetiam-se) a urgência da "democracia" e o direito a "ver o que se queria".

A obra de Bertolucci com Marlon Brando e Maria Schneider tornou-se parte integrante da Revolução dos Cravos e ainda hoje é curioso ver nos vários documentários que celebram a efeméride, o lugar que a estreia deste filme teve na sociedade de então e, acima de tudo, como se tornou um acontecimento dentro do acontecimento. Num momento em que os valores de Abril se discutem tanto (pelas mais variadas razões: económica, política ou social), é preciso não esquecer que a evocação de O Último Tango em Paris passa mais do que tudo pelo "lugar" da liberdade de expressão, hoje, no nosso país - isto num tempo em que continuamos a ver coisas como esta a acontecerem, e quando deveríamos estar mais do que nunca preparados a defender o que nesses dias foi conquistado. Não é preciso muito para o fazer: basta verem-no, depois de amanhã, no Pequeno Auditório do CCC das Caldas da Rainha, pelas 21h 30, na abertura do ciclo Escandaloso.

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