Era um dos "filmes da vida" de João Bénard da Costa;
Senso abriu na passada terça-feira o ciclo
O Cinema Vai à Ópera, circunstância que de forma perturbantemente irónica acabou por contrastar, apenas dois dias depois, com o desaparecimento do director da Cinemateca Portuguesa. A primeira vez que o vimos aconteceu precisamente na sala Félix Ribeiro; Bénard da Costa estava na sessão e recordamo-nos da sua presença na sala onde, mais uma vez, se dedicava a transmitir boa parte do amor que tinha por esta obra de Visconti.
Já se disse muito a respeito do seu trabalho pelo cinema em Portugal e principalmente da capacidade que tinha em partilhar a sua paixão pela Sétima Arte (através das míticas folhas da Cinemateca que educaram gerações de cinéfilos, dos seus livros, das suas crónicas, ou até mesmo nas entrevistas que dava para a televisão ou através das introduções que chegou a gravar durante os saudosos ciclos da RTP 2 ). Era uma voz respeitada e educada, mas mais do que isso era um homem que conseguia oferecer-nos uma visão do cinema absolutamente apaixonada. Isto permitia-nos apaixonar pelos filmes da mesma forma que ele se havia apaixonado por eles; pois de certo modo, o que Bénard da Costa fazia era seduzir-nos com a sua "paixão" pelos filmes.
Sem esse "sentimento" virtuoso, profundo e intenso, maior do que a vida e condição da própria vida, nunca olharíamos para os grandes filmes (a cuja categoria
Senso indelevelmente pertence) da maneira que estes verdadeiramente mereceriam. Se alguma coisa é capaz de definir um cinéfilo, não temos dúvida de que é isto: a capacidade de levar-nos a amar tanto como ele uma das suas obras de eleição. Bénard da Costa dava-nos o cinema porque nos oferecia o "senso" que tinha por eles.
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