quinta-feira, 30 de julho de 2009

A crise e os espectadores


São dados interessantes avançados pelo ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual) sobre a frequência de espectadores de cinema durante o último semestre deste ano que revelou um aumento de cerca de 89 mil espectadores em relação ao mesmo período do ano passado. Ou seja, ao contrário do que a crise poderia fazer prever, durante os últimos seis meses o público não só não se conteve nas idas ao cinema, como aumentou esse frequência (ainda que ligeira, é certo), facto que deve ser visto como uma tendência muito positiva no contexto sócio-económico em que vivemos. Poderemos parecer presunçosos, mas nada disto nos surpreende: a crise e os cenários de mudança, temos essa convicção, são momentos que normalmente beneficiam o mercado da cultura e o cinema em particular (como se aí as audiências encontrassem, mais do que uma solução de escapismo, uma forma de reflectir a respeito dos seus problemas, das suas inquietudes, das suas angústias).

Contudo, é preciso não esquecer que boa parte deste aumento se deve a um curto conjunto de filmes (não bem blockbusters, na tradicional terminologia do género, embora tenham funcionado no box-office nacional dessa forma) - O Estranho Caso de Benjamin Button de David Fincher, Anjos e Demónios de Ron Howard e Quem Quer Ser Bilionário? de Danny Boyle - e à ascensão que a tecnologia 3D tem vindo a construir no cenário da nossa distribuição, o que não deixa de pôr em causa a diversidade cinematográfica, nomeadamente a "respiração" de diferentes autores e cinematografias (paisagem que se torna mais desértica à medida que vamos saindo dos grandes centros urbanos). Preocupante é ainda a margem de integração do cinema português no mercado que atinge apenas uma quota de 3,6 por cento em comparação com a restante produção estrangeira, e onde Second Life de Alexandre Valente se destaca como o filme mais visto com pouco mais de 90 mil espectadores (isto numa produção nacional falada em grande parte em inglês).

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