É um dos diálogos de Godard de que mais vezes me recordo e durante muitos anos (ou seja, desde que o vi pela primeira vez numa dessas gloriosas sessões da RTP2 durante a década de 1990) nunca me esqueci desta ideia fundamental e tão lúcida com que a personagem de Chantal Goya em Masculino-Feminino confronta um surpreendido Jean-Pierre Leaud: cada um de nós é o centro do mundo. Sim, tudo gira à nossa volta e se não gira a verdade é que gostaríamos que assim fosse. Nesse desejo de sermos vistos, compreendidos, amados, percebemos portanto que não podemos estar sozinhos, apesar da solidão ser uma condição que nos acompanha sempre: pois nunca seremos vistos, compreendidos e amados tão absolutamente como gostaríamos que acontecesse. Somos o centro do mundo e nisso estaremos eternamente sozinhos.
Chantal Goya: O que é para ti o centro do mundo?
Jean-Pierre Leaud: O centro do mundo?
CG: Sim.
JPL: Tem piada, nunca tínhamos falado e quando falamos, fazes-me uma pergunta espantosa.
CG: Eu acho que é uma pergunta normal.
JPL: É verdade.
CG: Vá lá, responde.
JPL: Bom, acho que é o amor.
CG: Tem piada, eu ter-te-ia dito: sou eu. (pausa) Parece-te estranho? Não pensas que és o centro do mundo?
JPL: De certa maneira, sim.
CG: De que maneira?
JPL: De viver, de existir, de vermos com os nossos próprios olhos, de falarmos com a nossa boca, de pensarmos com a nossa cabeça.
CG: Achas que podemos viver sozinhos? Sempre sozinhos?
JPL: Não, não creio que seja possível. Não se pode viver assim, era o que eu te dizia. Sem ternura...
Masculino-Feminino de Jean-Luc Godard
Jean-Pierre Leaud: O centro do mundo?
CG: Sim.
JPL: Tem piada, nunca tínhamos falado e quando falamos, fazes-me uma pergunta espantosa.
CG: Eu acho que é uma pergunta normal.
JPL: É verdade.
CG: Vá lá, responde.
JPL: Bom, acho que é o amor.
CG: Tem piada, eu ter-te-ia dito: sou eu. (pausa) Parece-te estranho? Não pensas que és o centro do mundo?
JPL: De certa maneira, sim.
CG: De que maneira?
JPL: De viver, de existir, de vermos com os nossos próprios olhos, de falarmos com a nossa boca, de pensarmos com a nossa cabeça.
CG: Achas que podemos viver sozinhos? Sempre sozinhos?
JPL: Não, não creio que seja possível. Não se pode viver assim, era o que eu te dizia. Sem ternura...
Masculino-Feminino de Jean-Luc Godard
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