sexta-feira, 17 de julho de 2009

Meridiano de sangue


Andamos a ler Meridiano de Sangue ou o Crepúsculo Vermelho no Oeste do escritor norte-americano Cormac McCarthy e estamos a tentar imaginar como é aquilo tudo vai resultar no grande ecrã: um mundo de violência, caos, sangue, obscuridade, universo que arriscaríamos chamar de pré-apocalíptico (isto de um autor que muitos também chamam de pós-apocalíptico) já que estamos no tempo do "western" com todo o desencanto e a obscuridade que a imagem da fundação dos Estados Unidos jamais nos poderia dar (e McCarthy explora o terror, não sabemos se é a palavra certa, mas certamente o Mal aos limites da sua própria insustentabilidade). E o que mais nos perturba é a dimensão estética e formal, absolutamente "bela" e rigorosa, que o desenho do horror e do ódio entre os homens (assim como daquilo que estes podem fazer uns aos outros) assume através da sua escrita.

E por outro lado, percebemos porque este livro interessa ao cinema, estamos sem dúvida perante uma peça profundamente visual, onde o texto de McCarthy quase nos dá a cheirar o sangue e a morte provocados por aquele grupo de homens em que se centra o romance. Os irmãos Coen já nos deram um exemplo de como o mundo do escritor pode resultar no cinema com Este País Não é Para Velhos e em pós-produção está ainda a versão cinematográfica de A Estrada dirigida por John Hillcoat com Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee. Quanto a Meridiano de Sangue tem à frente da sua adaptação Todd Field (realizador de Vidas Privadas) depois de Ridley Scott também ter passado pelo projecto. A interrogação, no entanto, mantém-se: como é que este vai conseguir traduzir todo aquele pesadelo e negrume, aquelas autênticas pinturas de carne viva, cadáveres esquartejados, crianças violadas e escalpes ensaguentados sem que nós, os espectadores, desviemos os olhos?

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