quarta-feira, 29 de abril de 2009

Islão no feminino


A poucos dias do ciclo de cinema Mulheres do Islão no Cine-Teatro de Rio Maior (é dia 9 de Maio, pelas 16h e 21h 30), uma boa forma de abrir o apetite para alguma reflexão sobre a condição feminina no mundo árabe, além de ver os filmes, pois claro, passa também por deixar-vos aqui um artigo escrito por José Vieira Mendes (intitulado O Véu e a Vontade), director da Premiere, sobre esse mesmo tema, no seu blogue pessoal O Mourinho da Cultura.

São muitas as ideias estereotipadas e as categorias definidas à partida sobre o papel da mulher no Islão, ideias que muitas vezes partem de um juízo preguiçoso e rapidamente sentencioso sobre o verdadeiro lugar do universo feminino nesse mundo que é muito mais ambíguo do que aquilo que estamos habituados a ver através da agenda mediática.

Felizmente, temos o cinema que nos oferece a necessária experiência de tempo e olhar que é preciso dirigir para questões deste tipo, sem esquecer, naturalmente, os filmes que do outro lado (ou do lado do "outro") nos chegam com essa visão muito mais complexa e muito mais rica do que as imagens que acabam por nos ser impostas pela televisão. É uma luta que nos dias de hoje chega a ser desigual, mas queremos acreditar que o cinema, no fim, há-de levar a melhor (ou não estaríamos aqui).

terça-feira, 28 de abril de 2009

Follow the river

Um acordeão. Uma melodia. Uma letra como um poema. E James Stewart. By the river.


(é verdade que já vimos melhores westerns e mais do que isso melhores westerns com James Stewart, basicamente qualquer um do John Ford ou do Anthony Mann serve, mas não resistimos a este tema de Night Passage)

Follow the river

Follow the river, 
The river knows the way.
Come to me, I pray, 
I miss you more each day.

Follow the river, 
Wherever you may be
Follow the river back to me.

Follow the river, 
The river knows the way,
Hearts can go astray,
It happens every day.

Follow the river, 
Wherever you may be
Follow the river back to me.

Sometimes I feel like I will jump for the moon
And tell the sky up high.
Does it matter how full is the moon
If you've an empty heart.

Bring back the great love
The love that once we knew
Make my dream come true
The dream I had with you

Follow the river, 
Wherever you may be
Follow the river back to me.

A autoria é  de Dimitri Tiomkin, um dos mais oscarizados compositores  (foram 4 estatuestas no total) de Hollywood no seu período aúreo (vale a pena dar uma olhada ao seu site).

J. G. Ballard: elogio da loucura


Uma magnífica e impressionante entrevista do escritor J. G. Ballard, recentemente falecido, a Paulo Moura, jornalista do Público, que no seu blogue aproveita para reeditar (oportunamente) um texto de 2004 a respeito do seu romance Gente do Milénio (o livro conheceu edição portuguesa pela Quetzal Editores no mesmo ano).

No entanto, mais do que o livro, temos aqui uma discussão sobre o tema da "loucura" (o título da entrevista chega a ser bastante ilustrativo: "numa sociedade saudável, a loucura é a única liberdade possível") e aquilo que o escritor augurava como o fim de uma era: "A filosofia das Luzes, nascida com a Revolução Industrial, com a sua promessa de riqueza, prosperidade, já deu o que tinha a dar."

Visivelmente pessimista, o autor adiantava mesmo: "Eu vejo a possibilidade de o consumismo, para sobreviver, sofrer uma mutação. Transformar-se numa espécie de versão "soft" de fascismo." Não só: "O Iluminismo é um projecto acabado. Está nas suas últimas fases e as pessoas estão a voltar-se para o irracional. Para a religião, como nos EUA ou na Arábia Saudita, ou para o irracionalismo político, como os grandes projectos utópicos do século XX, o comunismo e o fascismo, que originaram dois gigantescos pesadelos..."

Entre os mais aclamados romances de Ballard, podemos encontrar O Império do Sol, publicado pela primeira vez em 1984 (ganhou o Guardian Fiction Prize e o James Tait Black Memorial Prize, tendo sido finalista do Booker Prize), e Crash, adaptados ao cinema por Steven Spielberg e David Cronenberg respectivamente.

sábado, 25 de abril de 2009

Sempre o pensamento


Uma famosa e simbólica imagem que nos serve para recordar como foi o dia de hoje há 35 anos atrás e onde podemos encontrar um soldado nas ruas de Lisboa durante a Revolução dos Cravos que anos mais tarde se tornaria nosso professor de Filosofia no liceu. Aqui está de arma na mão, mas nunca nos esqueceremos daquele primeiro dia de aulas em que atirou um caderno de apontamentos ao chão para nos provar a sua resistência e nos incitar a escrever todos os dias, uma frase, um poema, uma história, um romance (seja o que for, mas escrever). Um homem que nos ensinou ainda que a verdadeira "arma" é e será sempre o pensamento. E que isso também implica "acção" e "resistência": a mesma resistência que sabíamos encontrar num simples caderno de papel, num mundo de palavras e íntimas reflexões. Ainda o temos (nunca o deixaremos de ter).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cartas a uma ditadura



Daqui a pouco, no Cine-Teatro de Rio Maior (marcado pelas comemorações do 25 de Abril e já depois de uma primeira sessão pela tarde com o documentário Natureza Morta de Susana Sousa Dias), temos Cartas a uma Ditadura da actriz e realizadora Inês de Medeiros. Podemos dizer que se trata de um documentário perturbador sobre a participação de algumas mulheres durante o Estado Novo na campanha de Américo Tomás para a Presidência da República e contra a candidatura de Humberto Delgado ("Obviamente, demito-o!" disse este quando o questionaram sobre o que faria a Salazar se fosse eleito).

Baseado no depoimento de várias das mulheres que naquela época ingressaram num movimento feminino de apoio ao Regime, este é um filme que suscita enormes contradições e complexidades a respeito da condição feminina no período do Estado Novo. Mas melhor do que a nossa descrição, aproveitamos para deixar aqui algumas palavras da própria realizadora sobre a sua obra (gravadas numa mostra no Brasil onde mostrou o filme, foi ainda júri e da qual trouxe um prémio), num vídeo curto que não deixa de suscitar algum apetite pela sessão que se aproxima.

Cartas a uma Ditadura venceu ainda o prémio de distribuição no Doclisboa 2006 (apesar da sua incursão pelas salas, infelizmente, não ter durado mais do que algumas semanas).

quinta-feira, 23 de abril de 2009

The Big Red One: reconstrução de uma memória


Uma das melhores memórias que retemos do Indie Lisboa foi a possibilidade que o festival nos deu de rever um dos filmes da nossa infância (não o víamos desde provavelmente os nossos sete ou oito anos, numa dessas projecções itinerantes que passavam pelos salões dos clubes recreativos das aldeias): O Sargento da Força Um (1980) do grande Samuel Fuller. A versão que vimos na edição de 2005 do Indie Lisboa vinha não apenas restaurada, como trazia ainda 40 minutos adicionais à versão original que nos ficara na memória (reconstruída pelo crítico de cinema Richard Schickel, esta seria a visão mais próxima daquilo que o cineasta originalmente imaginara, daí o título: The Big Red One: The Reconstruction).

É um filme de guerra como poucos, capaz de combinar o horror do conflito com muitos momentos de delírio, lirismo e comédia negra, sem deixar de ser bastante cru e visceral, o que se pode explicar por evocar também um pouco a experiência que o próprio realizador teve durante a II Grande Guerra, precisamente ao serviço da Força Especial Big Red One. Seguindo um esquadrão do exército norte-americano liderado por um convicto Lee Marvin, e através de uma Europa mergulhada no caos e no conflito militar, tem algumas sequências memoráveis (que a sessão acabou por ajudar a reconstruir na nossa memória feita de imagens vagas e imprecisas) como o desembarque na Normandia, um parto improvisado num tanque de guerra ou a visão dos campos de concentração nazis.

Não foi só o reencontro com uma fantástica obra de cinema, foi ainda um reencontro com a memória.

Os números do Indie Lisboa


250 filmes. 263 sessões. 192 filmes europeus. 20 asiáticos. 36 americanos. 2 da Oceânia. 40 animações. 66 documentários. 29 filmes experimentais. 115 ficções. 29 filmes portugueses. Salas: Cinema São Jorge, Cinema Londres, Fórum Lisboa, Cinema City Classic Alvalade e Auditório do Museu do Oriente. Abertura: hoje, quinta-feira, às 21h30, na Sala 1 do Cinema São Jorge, com Encounters at the End of the World, documentário de Werner Herzog nomeado para Melhor Documentário nos Óscares deste ano.

(na foto um dos Heróis Independentes deste ano: Werner Herzog, o homem a quem cabe as honras de abertura da edição deste ano)

Mão de Deus


Isto pode não ter muito a ver com cinema, mas a questão da interpretação de uma imagem é sempre um tema que nos interessa: a NASA acaba de captar a foto de uma nebulosa provocada por um pulsar que (e isto também não deixa de ser perturbador) tem no mínimo 1700 anos de idade. Os cientistas vêem ali basicamente uma estrela capaz de libertar no espaço massas de energia e matéria que acabam por causar formações como a que vemos. Já os místicos apontam para um "sinal divino": e não é preciso muita imaginação para perceber porque razão estes imaginam ver no conjunto visual de cor e matéria obtido a "mão de Deus".

Em suma, uns e outros vêem o que querem ver: o que nos parece ser ainda mais relevante do que qualquer outra discussão. Uma imagem é muito mais do que uma imagem: não só o sentido que lhe damos, não só a capacidade que tem de suscitar a nossa fantasia, os nosso medos, as nossas angústias (será que depois de uma época de puro "cinismo" não se avizinham por aí dias de "misticismo"?), os nossos desejos (sim, a economia, pelo menos, precisa bem de uma "mãozinha"), mas uma visão do "divino" (de uma "razão"?). O curioso é que seja a ciência a dar-nos a possibilidade dessa solução. E sabemos como esta certeza é tão antiga quanto o Homem: quem olha as estrelas arrisca-se naturalmente a ver Deus.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Fellini Satyricon


Vamos dar uma saltada até ao "Satyricon" de Fellini.
E esperamos voltar, não apenas sãos e salvos, mas inteiros...

sábado, 18 de abril de 2009

Indie Lisboa 09


É já no próximo dia 23 de Abril que se inicia aquilo que se tornou num verdadeiro acontecimento na capital: o Indie Lisboa chega à sua 6.ª edição e continua a trazer o melhor cinema independente que se faz no mundo (com agenda normalmente marcada para a última semana de Abril e a primeira de Maio).

Mas o festival é também ele uma história de independência, de crescimento e aposta em programação de qualidade, de divulgação de autores e cinematografias habitualmente negligenciadas pelo mercado de distribuição, em suma, um espaço vivo de cinefilia que provou ser capaz de mobilizar público em tempos de incerteza e crise (aliás, quase apetece dizer, revendo os números, que o Indie Lisboa não fez mais do que crescer durante o seu curto tempo de vida, tendo atingido mais de trinta mil espectadores nas duas últimas edições).

Dizer apenas que a programação está aí, disponível, com tanta oferta e hipóteses de descoberta que por vezes chegamos a maldizer a pouca disponibilidade de agenda que nos impede de ver tudo o que ansiaríamos ver. Depois, não muito mais tarde, chegará a vez de Alcobaça receber mais uma extensão, a terceira, desde que em 2007 se inaugurou esta relação entre o Cine-Teatro e o Festival Internacional de Cinema Independente.

Desta vez, numa colaboração entre a Zero em Comportamento e a recém-nascida *aurora, podemos prometer apenas o nível de qualidade conquistado nos anos anteriores (mas que isso não vos impeça de viajar até Lisboa e às várias salas por onde festival se estende). Consultem toda a programação (vastíssima) aqui.

(a imagem é do filme Encounters at the End of the World de Werner Herzog, um dos Heróis Independentes, a par de Jacques Nolot, da edição deste ano)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Essa magnífica serenidade


"No meio de tamanha felicidade, sento-me às vezes no nosso terraço ao pôr do Sol, e contemplo o vasto relvado verde e o lago ao longe, e para lá do lago as montanhas tranquilizadoras, e quedo-me sem pensar em nada, a gozar essa magnífica serenidade."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

Liberdade


"Nos filmes havia mais liberdade. Davam-me uma sensação de aventura. 'Que pensa você desta ideia?', dizia Sennet; ou ainda: 'Há uma inundação na rua principal da cidade.' De uma destas observações nascia uma comédia Keystone. Era esse adorável espírito de improvisação que dava gosto: um desafio ao poder criador, tudo tão livre e tão fácil; não havia literatura, nem autores, tínhamos apenas uma ideia, em volta da qual lançávamos os gags, e depois íamos construindo a história."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

A colocação da câmara


"Com mais experiência, (...), descobri que a colocação da câmara tinha não só um papel psicológico mas que dela dependia a própria articulação da cena, que ela era de facto a base do estilo cinematográfico. Se a câmara estiver um pouco mais perto ou longe de mais, isso é o suficiente para realçar ou estragar um efeito. Como a economia de movimento é importante, não se quer que o actor ande uma distância desnecessária sem razão especial, porque andar não é dramático. A colocação da câmara influi portanto na composição e deve proporcionar ao actor entrar em cena nas melhores condições. A colocação da câmara é que dá inflexão à linguagem cinematográfica. Não se tem por princípio que um grande plano acentua mais do que um plano afastado. Sente-se que se deve fazer ou não um grande plano; em certos casos, um plano afastado pode valorizar mais a acção."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

A personagem


"Na minha personagem havia qualquer coisa de diferente; os americanos não a conheciam, nem eu tão-pouco. Mas, metido no fato, eu tinha a impressão de que ela era uma realidade, uma criatura viva. Na verdade, ela desencadeava em mim toda a espécie de ideias loucas, com as quais nem sequer sonhara antes de me vestir e pintar de vagabundo."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

Vagabundo e cavalheiro, poeta e sonhador


"- Sabe, este tipo tem várias facetas: é um vagabundo e ao mesmo tempo um cavalheiro, um poeta, um sonhador, um solitário, sempre ansioso por idílios e aventuras. Gostaria que o tomassem por um sábio, um músico, um duque ou um jogador de pólo. Mas não desdenha de apanhar uma beata do chão, nem de furtar o chupa-chupa a um bebé. E, é claro, não perde a ocasião de dar um pontapé no traseiro de uma senhora... mas só quando está fulo!"

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

Charlot


"Eu não tinha a menor ideia da maquilhagem que havia de fazer. O meu traje de repórter não me agradava, mas, no caminho para o guarda-roupa, pensei em pôr umas calças muito largas, umas botas muito grandes, bengala e chapéu de coco. Queria que tudo estivesse em contradição: as calças largas e o casaco apertado, o chapéu muito pequeno e as botas enormes. Não sabia se havia de parecer velho ou novo, mas lembrando-me de que Sennet supusera que eu era mais velho, pus um bigodinho que, discorria eu, me daria mais alguns anos, sem esconder a expressão.

Não fazia ideia do tipo de personagem que ia representar. Mas, a partir do momento em que me vi vestido, o fato e a maquilhagem fizeram-me sentir o que ele era. Comecei a descobri-lo e, ao chegar ao estúdio ele estava criado inteiramente. quando me apresentei diante de Sennet, sentia-me na pele da personagem, e avançava empertigado, fazendo molinetes com a bengala. E os gags e as ideias cómicas acudiam-me em tropel."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

Charles Chaplin


"Nasci a 16 de Abril de 1889, às oito horas da noite, na East Lane, em Walworth."

Charles Chaplin, in Autobiografia (1964)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Josey Wales Meets Ten Bears

Porque nem tudo é mau na tv (e porque a cinefilia também passa por aí), relembrar apenas que hoje na RTP1, por volta da meia-noite, temos The Outlaw Josey Wales (1976) do magnífico Clint Eastwood (filme que em português recebeu o título de O Rebelde do Kansas: é por esse nome que o devem procurar na programação) e faz parte da nossa lista de favoritos de sempre (tanto para Clint como para o western).

Com especial carinho por esta cena, vemos aqui como Josey conquista a paz e a tolerância no território de Ten Bears, um forte e implacável chefe índio (sublinhamos: "mau como as cobras"), através de um discurso que não deixa de conter a força e o verbo de um verdadeiro "líder" (temos uma opinião muito pessoal: este é um filme "político" na exacta medida em que retrata a "liderança" como uma virtude puramente individual, aqui personificada precisamente pela personagem de Eastwood).

Fazemos, pois, questão não só de evocar essa sequência (através das maravilhas que o Youtube nos disponibiliza), como de deixar o diálogo que aí decorre (que roubamos a uma página de Internet perdida), cheio de tensão e sabedoria.


Josey: You be Ten Bears?

Ten Bears: I am Ten Bears.

Josey: (spits tobacco) I'm Josey Wales.

Ten Bears: I have heard. You're the Gray Rider. You would not make peace with the Blue Coats. You may go in peace.

Josey: I reckon not. Got nowhere to go.

Ten Bears: Then you will die.

Josey: I came here to die with you. Or live with you. Dying ain't so hard for men like you and me, it's living that's hard; when all you ever cared about has been butchered or raped. Governments don't live together, people live together. With governments you don't always get a fair word or a fair fight. Well I've come here to give you either one, or get either one from you. I came here like this so you'll know my word of death is true. And that my word of life is then true. The bear lives here, the wolf, the antelope, the Comanche. And so will we. Now, we'll only hunt what we need to live on, same as the Comanche does. And every spring when the grass turns green and the Comanche moves north, he can rest here in peace, butcher some of our cattle and jerk beef for the journey. The sign of the Comanche, that will be on our lodge. That's my word of life.

Ten Bears: And your word of death?

Josey: It's here in my pistols, there in your rifles. I'm here for either one.

Ten Bears: These things you say we will have, we already have.

Josey: That's true. I ain't promising you nothing extra. I'm just giving you life and you're giving me life. And I'm saying that men can live together without butchering one another.

Ten Bears: It's sad that governments are chiefed by the double-tongues. There is iron in your word of death for all Comanche to see. And so there is iron in your words of life. No signed paper can hold the iron, it must come from men. The words of Ten Bears carries the same iron of life and death. It is good that warriors such as we meet in the struggle of life... or death. It shall be life. (he takes his knife and cuts his hand. Josey does the same and they grasp each others hand.) So shall it be.

Ncontrast Revista On-Line (diáspora)


Nem a propósito, e após a atenta proposta de uma das nossas espectadoras, deixamos aqui o link para uma das edições da revista on-line Ncontrast que dedicou o seu número de Janeiro de 2009 ao tema da diáspora (a actual é sobre a carne).

Depois do ciclo Caem Bombas no Paraíso, não deixa de ser uma coincidência feliz (isto sabendo como o povo israelita e palestiniano deram "corpo" ao próprio termo) e uma óptima forma de encerrar as imagens e o cinema que vimos durante o fim-de-semana em Alcobaça.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ponto de Ebulição


Em O Paraíso, Agora, a dada altura, questionado sobre o seu género preferido no cinema, Said (Kais Nashef) não só se mostra incapaz de responder como revela um total desconhecimento das implicações do termo "género" (sem deixar de demonstrar um sentido desprezo pelo próprio cinema: tudo se passa na cena em que bebe chá em casa do seu "love-interest" e depois de saber que foi escolhido para uma missão suicida). Said pergunta então à bela Suha (Lubna Azabal) se não existe um género que seja chato (parece-nos que é exactamente esta a palavra que usa); como a vida.

Hany Abu-Assad, o realizador, não deixa de colocar nesta cena uma interessante questão formal num filme que não sendo realista, procura transmitir parte da atmosfera entediante vivida pelas suas personagens nos territórios ocupados (e particularmente em Nablus, cuja pobre dimensão social se pressente). Mas O Paraíso, Agora não é um filme sobre o tédio daquele mundo (e mais perto disso até andará Intervenção Divina do compatriota Elia Suleiman), é antes um filme sobre a sua acumulação no interior das personagens.

Como a panela de café que transborda no início, plano simbólico do que está para acontecer, Assad quer captar o tempo e o percurso do "aumento da temperatura", da ebulição do tédio no sentido de uma tragédia que inevitavelmente conduz à auto-destruição. É quando a sua história chega ao ponto de ebulição que Assad pára, porque já filmou tudo o que lhe interessava filmar. O resto já conhecemos: história de mais um bombista-suicida que se fez explodir em Israel.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O lugar do suicida


Normalmente, quando a televisão nos dá a visão de um atentado terrorista, já tudo aconteceu: ficam as imagens dos mortos, da destruição, do desespero, do pânico, da incompreensão e da loucura humana levadas ao seu extremo absoluto. Tudo nos confunde nesse cenário consumado de destruição e tudo nos parece conduzir a um juízo precipitado das causas e dos efeitos que é preciso condenar moralmente nesse instante, rapidamente. Mas a televisão, que dá a ilusão de estar em todo o lado, durante o tempo todo, chega sempre atrasada e ávida de captar a dimensão caótica dos acontecimentos (facto que deriva precisamente da sua condição omnipresente em informar e transmitir o que é "noticia": isto sabendo que a "notícia" não chega com pré-aviso aos gabinetes das redacções). O cenário que obtemos daí é manifestamente incompleto: como se bastando ver o final de um filme isso nos permitisse adivinhar o resto da história.

Ao contrário das televisões, O Paraíso, Agora de Hany Abu-Assad chega antes de tudo isto e mostra-nos tudo o que está antes de um atentado, desde o contexto social e individual de um conjunto de personagens de palestinianos nos territórios ocupados até à forma como dois deles, verdadeiros amigos e cúmplices, acabam por ser recrutados pela luta armada local. O filme que foi acusado por ambos os lados da barricada (árabes e judeus) tanto de ter procurado humanizar o lugar do bombista-suicida no conflito israelo-palestiniano como de levantar críticas ao "modus operandi" na angariação de fiéis da causa palestiniana, mostra-nos, mais do que um dia na vida do terrorista, o retrato de um conflito moral entre "irmãos" que, por circunstâncias várias, têm entre mãos a decisão de concluir ou não a missão que lhes foi confiada.

Até que ponto se justifica darmos a nossa vida para que outros a percam? Mais: até que ponto isso serve à luta armada e à causa palestiniana (embora esta luta e causa pudessem pertencer a outro povo e cultura quaisquer)? E por último: é para isso que a vida de um indivíduo serve? Não é por acaso que este filme nos apresenta esse universo de interrogações através de duas personagens que, mais do que lançar as questões morais que se revolvem dentro delas, as debatem quase corpo a corpo, numa espécie de duelo individual e pessoal que ilustra a dimensão mais complexa do conflito israelo-palestiniano. Esta capacidade de viajar aos momentos que antecedem um drama dos nossos tempos é o ponto forte de O Paraíso, Agora e também aquilo que fez com que esta obra gerasse tanta controvérsia e polémica dos dois lados. Simplesmente por isto, colocou-se no meio: o verdadeiro lugar do sacrifício e o verdadeiro lugar onde todos tiveram de confrontar as suas dúvidas.

domingo, 12 de abril de 2009

Max Richter


A face por trás da belíssima composição original do filme A Valsa com Bashir, vencedora do 2008 European Film Award na categoria de banda sonora. Max Richter (na fotografia), cujo trabalho e biografia convidamos a conhecer através do seu site oficial, e que nos nos mostra, para além dos seus trabalhos, ainda um diário dos seus pequenos afazeres artísticos e criativos.

E os sonhos e os pesadelos de "A Valsa com Bashir"


Vimos ontem como Ari Folman usou a animação em A Valsa com Bashir para entrar directamente nos fantasmas de guerra israelitas. E vimos ontem, acima de tudo, como o realizador utiliza o género na tentativa de suscitar boa parte dos dilemas morais que têm marcado o papel do agressor no meio do conflito no Médio Oriente. Quando já vimos todas as imagens possíveis de horror e absurdo que há para ver sobre o conflito israelo-palestiniano, esta opção não deixa de ser notável: Folman precisa da animação para criar o distanciamento necessário da banalidade das imagens mediáticas e televisivas que já conhecemos para, no fundo, nos colocar através da "ilustração animada" ainda mais no interior da realidade dramática da guerra (e aí colocar as interrogações que lhe interessa colocar).

A sua personagem enceta um percurso através da memória procurando preencher todos os espaços em branco que sobraram da experiência traumática da guerra - uma memória que parece ter sofrido um perturbador apagamento: isto porque Folman estranha o facto de não se recordar dos mesmos episódios de guerra que os seus antigos colegas de exército reteram, o que o leva a interpelá-los com as suas dúvidas e questões, sobretudo a respeito dos massacres de Sabra e Chatila durante o conflito com o Líbano no início dos anos 1980 em que participou e que a partir de certo momento se tornam no leit-motiv da obra. A animação torna-se assim um instrumento vital para sustentar uma visão documentarista dos factos (é irónico observar os entrevistados transformados em bonecos), sem deixar de alimentar os devaneios oníricos e surreais do autor em contraste com os diferentes depoimentos recolhidos.

Estes depoimentos servem para o ajudar a recordar aquilo que também ele viveu, mas que por qualquer razão foi eliminado do "disco rígido" da sua memória. Filme corajoso, frontal e honesto, Valsa com Bashir lida com um universo amplo de emoções e sentimentos contraditórios que o tornam num belíssimo objecto cinematográfico, capaz tanto de nos entusiasmar com a sua força expressiva e poética quanto de nos deixar com um travo amargo na boca. Não existem vencedores nem vencidos, apenas vítimas. E os sonhos e os pesadelos onde estas permanecem vivas para sempre.

sábado, 11 de abril de 2009

Que olhar temos para o conflito israelo-palestiniano?


Apesar de todos estes filmes terem estreado comercialmente em Portugal (em regimes de exibição que, contudo, raramente os levou a sair do eixo Porto-Lisboa), não se pode dizer que o cinema israelita e palestiniano tenha junto do público nacional o acolhimento que mereceria. De um modo ou de outro, ambas as cinematografias continuam bastante desconhecidas por cá, apesar de reflectirem temas e questões que dia após dia teimam entrar-nos pela casa a dentro através do universo mediático nacional (e isto quando ainda há pouco tempo vivemos com drama os conflitos militares que se estenderam sobre Gaza). A verdade é que continuamos a ter aí demasiado ruído, demasiada falta de informação, demasiada ausência de contexto, para o conjunto de imagens (imagens, no mínimo, marcadas pela loucura e o absurdo da guerra) que a televisão nos impõe, sublinhando menos o meio social que as circunda do que o seu efeito televisivo imediato.

No ciclo de cinema Caem Bombas no Paraíso não temos só a oportunidade de observar duas cinematografias que nos últimos anos têm gerado um amplo debate sobre o conflito no Médio-Oriente, como podemos atestar ainda do nível de exigência e sofisticação que essas mesmas cinematografias atingiram. Filmes muito diferentes entre si e filmes que não se recusam a olhar de frente os dilemas mais controversos que assaltam a identidade de dois países cuja situação geo-político-estratégica tem imprimido fortes guinadas ao curso do mundo - e sobretudo países cuja complexidade histórica e cultural permanece bastante desconhecida no seio da nossa sociedade actual.

Nesse aspecto, os filmes que iremos ver apresentam-se na antítese total da "imagem" criada pelas televisões e pela imprensa diária, obras que nos mostram, por um lado, as interrogações mais profundas e interiores destes dois povos em conflito, e que por outro, o retratam sem subterfúgios nem concessões políticas ou morais. Mais do que encontrar respostas, é preciso dar-mos espaço às várias interrogações que o cinema destes dois países por aqui nos deixam. E ainda questionarmo-nos a nós próprios sobre que olhar temos para o conflito israelo-palestiniano.

(na imagem temos a actriz Manal Khader, intérprete principal de Intervenção Divina do palestiniano Elia Suleiman, filme que será exibido amanhã, pelas 17h, no Cine-Teatro de Alcobaça)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A crise de espectadores no cinema


Há pouco mais de um mês (a 27 de Fevereiro, para sermos mais precisos), o suplemento Ípsilon no Público e a jornalista Inês Nadais apresentavam uma reportagem exemplar e bastante sintomática da crise vivida pelas salas de cinema no Porto. Escrevia-se aí: "o panorama actual da exibição cinematográfica no Porto é tudo menos exemplar - 14 salas em funcionamento, 12 das quais em centros comerciais". Mais: "Dos 21 cinemas activos na cidade em 1978, não há nenhum aberto".

É verdade que agora não se fala noutra coisa que não seja a criação da Cinemateca do Porto, que tudo indica poderá servir para mudar alguma coisa no panorama actual da exibição cinematográfica, mas para além da espera só servir para agudizar ainda mais a ansiedade que por ali existe (não extinguindo boa parte daquele sentimento que previne: "será-que-isto-não-é-bom-demais-para-ser-verdade?"), o projecto apenas parece vir sublinhar o estado a que tudo isto chegou. Sendo "isto" o divórcio que desde o início deste século (será que vamos dar razão a Paul Schrader que dizia que o cinema era uma arte exclusiva do séc. XX?") se acentuou entre o público e as salas de cinema.

Deixámos de ir ao cinema, é um facto. Deixámos de entrar nos vários espaços (das salas mais pequenas aos cine-teatros de província) onde este era projectado. O que não quer dizer que o cinema se tenha eclipsado (ele anda por aí: na tv por cabo, nos torrents da Internet, nos DVD's oferecidos pelos jornais de fim-de-semana ou através da pirataria, etc.), mas o facto é que deixou de ser vivido colectivamente e com um profundo espírito de comunidade. Mais importante, deixou de ser vivido com o corpo e a alma que só podem ser pressentidos através do seu formato original: o grande ecrã e a película de 35 mm.

A reportagem intitulava-se "Porto: onde é que estão os espectadores para o cinema?" e para além de querermos chamar a atenção para a reflexão que o texto nos apresenta (há várias figuras a oferecer descrições e alternativas à crise que se instalou), podemos (e devemos) dizer que a interrogação também serve para muitos outros locais no país. Em vez do Porto, e à sua dimensão, podia estar ali Leiria (onde nem há muito tempo fecharam duas salas), Alcobaça, Rio Maior, Nazaré (e sim; ao mencionar todas estas localidades estamos no fundo a puxar a brasa à nossa sardinha), entre tantas outras que existem pelo território nacional.

A crise é também, e essencialmente, uma crise de cinefilia no sentido mais nobre e ilustre do termo: há cine-clubes que simplesmente cessaram a sua actividade, outros que vivem imensas dificuldades ou se cristalizaram no tempo (alguns fechados numa visão elitista da oferta cinematográfica), além de faltarem iniciativas e esforços em muitos municípios capazes de levarem a cabo ciclos e retrospectivas que coloquem o cinema ao nível de outros eventos culturais.

Não basta dizer que não há público, porque nisto concordamos com o que o estudante David Barros diz a Inês Nadais: "Temos (...) de lidar com a situação e ultrapassar esta falácia de que não há cinema no Porto porque não há público. Também não há público se não houver cinema. É preciso começar a criar novos circuitos de cinefilia". Já Carlos Azeredo Mesquita, que pertence ao Cineclube da Faculdade de Belas-Artes, diz outra coisa que nos parece muito certeira: "A Cinemateca seria a instituição perfeita, mas não resolve os problemas todos: há coisas mais pequenas, menos institucionais, que podem criar práticas mais densas. Também achávamos que não havia público para as artes visuais, e tanto Serralves como Miguel Bombarda são o que são".

Quanto a Dario Oliveira, um dos directores do Curtas Vila do Conde, dá-nos o exemplo do que pode ser uma receita eficaz para se criar outro tipo de ligação ao cinema (e que, modéstia à parte, é um pouco aquilo que a *aurora tenta por cá igualmente fazer): "(...) havendo uma programação séria, uma ligação à universidade e ao meio artístico, há público".

E é como se todos apontassem, mais do que um caminho, à "criação" de um novo percurso dirigido ao público, seja ele qual for, seja ele quanto for: "Se não começarmos pelas 20 pessoas, nunca passaremos para as 2000", afirma o arquitecto Alexandre Alves Costa. A *aurora concorda plenamente: como é que se pode ter uma casa cheia se não nos preocuparmos com cada um dos que vier a ocupar lugar nela?

Uma imagem


Sem dúvida, uma das imagens mais fascinantes que podemos encontrar em A Valsa com Bashir de Ari Folman (e não nos cansamos de dizer: estará amanhã, no Cine-Teatro de Alcobaça, pelas 21h 30, a abrir o ciclo Caem Bombas no Paraíso). Imagem que a partir daí (dentro e fora do filme) não nos deixa de perseguir.

What Price Glory?


A propósito de John Ford e a propósito da "glória" em tempo de guerra que Ari Folman fala no post abaixo, fomos buscar "O Preço da Glória" (1952), filme realizado pelo primeiro e remake de um clássico com o mesmo nome de 1926, assinado então por Raoul Walsh (confessamos que não conhecemos a versão original e por isso não vamos entrar em comparações).

É curioso saber hoje que James Cagney apenas assinou contrato com a 20th Century Fox para esta produção após lhe terem garantido que seria um musical (o que nunca chegou a ser, apesar de conter várias sequências evidentemente musicais: e se alguma coisa é, o que temos aqui é um drama de guerra, onde a comédia e a música, apesar de ingredientes fortes, apenas sublinham o clima absurdo da guerra).

Como nos seus westerns, Ford está mais interessado nas suas personagens masculinas e numa certa ideia de "masculinidade" e camaradagem que transforma em muitos momentos a pequena aldeia francesa em que o regimento de James Cagney está estacionado numa cidade caótica do Velho Oeste (o café que os soldados frequentam transforma-se literalmente num saloon; e perto do fim é isso mesmo que um soldado americano lhe chama).

Até Charmaine, a "beldade local" e filha do dono do café da aldeia (interpretada por uma sensualíssima Corinne Calvet), está mais próxima da imagem das "garotas" de saloon do Velho Oeste: razão porque acaba por ser disputada pelo Capitão Flagg (James Cagney) e pelo Sargento Quint (Dan Dailey).

É a tensão entre estes dois homens que Ford capta com fascínio, sem deixar de aflorar a dimensão mais dramática do conflito militar (ainda não o tínhamos dito: estamos em pleno coração da I Guerra Mundial) e evitando qualquer crítica militarista.

Se existe crítica anti-guerra (que nos dizem ser uma das características da obra original) é no sentido em que esta corta a possibilidade do amor (simbolizado na paixão trágica vivida entre o soldado interpretado por um jovem Robert Wagner e uma estudante francesa) e a forma implacável como destrói a juventude de muitos americanos ingénuos e imberbes.

Sim, é esse o preço da glória de que Folman também deve estar a falar.

A very personal film



A pouco mais de um dia de A Valsa com Bashir abrir o ciclo Caem Bombas no Paraíso em Alcobaça, aproveitar para deixar um pequeno vídeo onde Ari Folman fala das suas opções pela animação (tem tudo a ver com a liberdade criativa), a forma como reivindica o estatuto de "non-political film" para aquilo que é, no fundo, o retrato íntimo de uma experiência pessoal e dramática no campo da guerra (ele avisa que por trás dos desenhos bonitos houve gente, mulheres e crianças mortas, e como ao contrário do que muitos outros filmes mostram, não há "glória" na guerra), sublinhando a dada altura que este é, na verdade, "a very personal film". E acrescenta: "wars, any war, everywhere, is useless".

Um rosto humano


John Ford disse um dia que a coisa mais bela que se poderia filmar na paisagem desoladora de um deserto era um rosto humano. Aproveitar, portanto, as suas palavras para evocar o rosto humano que era o seu (foi com esse rosto que acordámos e é com esse rosto que vos deixamos).

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O cinema de Israel e da Palestina existe: e mostra a história de um conflito visto por dentro.

É um dos dramas mais complexos da História Contemporânea e um dos que continua sem dúvida a suscitar maiores dúvidas e equívocos no universo mediático português: o conflito israelo-palestiniano vai ter direito a um ciclo de cinema no Cine-Teatro de Alcobaça, durante os próximos dias 11, 12 e 13 de Abril (tempo de Páscoa e tempo em que viajamos de uma forma ou de outra até à Terra Santa), intitulado Caem Bombas no Paraíso (consulta o programa clicando na imagem do cartaz ao lado), destinado a reflectir sobre a guerra no Médio Oriente e tudo aquilo que continua a dividir dois dos povos mais antigos e flagelados da Humanidade.

O ciclo de cinema Caem Bombas no Paraíso pode não trazer todo o cinema que ali se tem produzido, mas dá-nos uma amostra importante da melhor produção recente destes dois “jovens” estados
  com obras que têm sido aclamadas não só nos mais importantes festivais internacionais, mas que também chegaram a receber nomeações nas últimas cerimónias dos Óscares.

São os casos das propostas que abrem e fecham este ciclo: A Valsa com Bashirdo israelita Ari Folman (ver imagem acima), exibido na sessão de abertura, sábado, dia 11 de Abril, pelas 21h 30, e O Paraíso, Agora do palestiniano Hany Abu-Assad, segunda, 13 de Abril, também às 21h 30, produções nomeadas para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro nas edições de 2008 e 2005 respectivamente.

O primeiro relata a viagem surreal de um antigo combatente israelita ao interior das suas memórias de guerra durante o conflito do início dos anos 1980 entre Israel e Líbano (é um filme baseado na experiência pessoal do realizador), enquanto o segundo faz o retrato de dois jovens amigos palestinianos recrutados como bombistas-suicida (uma visão que mereceu várias polémicas e criticas a partir de ambos os lados da barricada: os israelitas recusando ver nele uma tentativa de humanização do terrorista e os próprios palestinianos acusando-o de demonizar a causa árabe).

Pelo meio, há mais duas obras imprescindíveis: Intervenção Divina do palestiniano Elia Suleiman, domingo, dia 12 de Abril, pelas 17h, que não só desenha uma crónica de amor entre um palestiniano de Jerusalém e uma palestiniana de Ramallah em busca de intimidade no meio do quotidiano demencial nos territórios ocupados, da violência diária e da rotina dos “check-points”, como se desfaz em episódios de comédia burlesca e delírios frenéticos.

Resta mencionar Vai e Vive, um filme do romeno Radu Mihaileanu, no mesmo dia, pelas 21h 30, que conta a odisseia de um rapaz africano declarado judeu para fugir à fome no Sudão e que acaba por ser adoptado por uma família francesa sefardita em Telavive.

Chegámos à blogosfera


Depois do site oficial, do youtube, do twitter e do facebook, chegámos à blogosfera. Já o dissemos na última newsletter que seguiu durante esta noite: queremos estar em vários sítios ao mesmo tempo, e sabemos como tudo isso pode ser esquizofrénico (males do nosso tempo), mas a ideia mesmo é não deixar pontas soltas no ramo da comunicação (um ramo muito complicado hoje em dia).

Para começar, dizer quem somos e de onde vimos (vai parecer redundante com a descrição acima, bem sabemos, só que nunca é demais repetir), porque tudo começou tudo naquela noite de 14 de Fevereiro no Cine-Teatro de Alcobaça com o filme-concerto "Aurora".

Agora percebem de onde vem o nosso nome: se nos chamamos *aurora é porque fomos inspirados pelo maravilhoso clássico do Murnau (e se este filme mostra uma história de reconciliação entre as personagens de George O'Brien e Janet Gaynor, a nossa história não deixa de ser uma busca da reconciliação entre o público e a Sétima Arte no seu "habitat" natural: a sala de cinema).

Somos, portanto, aquilo a que gostamos de chamar uma rede criativa de programação e exibição de cinema que quer trazer às salas e aos vários espaços culturais da zona Oeste todo o cinema que nos passa ao lado (e já agora mostrar quem o fez e faz melhor por estes dias).

Para isso, programamos e produzimos ciclos de cinema, através de temáticas, retrospectivas de autor ou outro tipo de mostras, nos contextos que melhor se adaptam à realidade local de cada município ou localidade.

Basicamente, a *aurora é isto que dissemos (a imagem pertence naturalmente a essa obra-prima a que fomos roubar o título e a paixão pela Sétima Arte), sem esquecer que no futuro pretende ser muito mais do aquilo que representa agora ("but that's another story": basta que fiquem atentos aos próximos posts).