Apesar de todos estes
filmes terem estreado comercialmente em Portugal (em regimes de exibição que, contudo, raramente os levou a sair do eixo Porto-Lisboa), não se pode dizer que o cinema israelita e palestiniano tenha junto do público nacional o acolhimento que mereceria. De um modo ou de outro, ambas as cinematografias continuam bastante desconhecidas por cá, apesar de reflectirem temas e questões que dia após dia teimam entrar-nos pela casa a dentro através do universo mediático nacional (e isto quando ainda há pouco tempo vivemos com drama os conflitos militares que se estenderam sobre Gaza). A verdade é que continuamos a ter aí demasiado ruído, demasiada falta de informação, demasiada ausência de contexto, para o conjunto de imagens (imagens, no mínimo, marcadas pela loucura e o absurdo da guerra) que a televisão nos impõe, sublinhando menos o meio social que as circunda do que o seu efeito televisivo imediato.
No ciclo de cinema
Caem Bombas no Paraíso não temos só a oportunidade de observar duas cinematografias que nos últimos anos têm gerado um amplo debate sobre o conflito no Médio-Oriente, como podemos atestar ainda do nível de exigência e sofisticação que essas mesmas cinematografias atingiram. Filmes muito diferentes entre si e filmes que não se recusam a olhar de frente os dilemas mais controversos que assaltam a identidade de dois países cuja situação geo-político-estratégica tem imprimido fortes guinadas ao curso do mundo - e sobretudo países cuja complexidade histórica e cultural permanece bastante desconhecida no seio da nossa sociedade actual.
Nesse aspecto, os filmes que iremos ver apresentam-se na antítese total da "imagem" criada pelas televisões e pela imprensa diária, obras que nos mostram, por um lado, as interrogações mais profundas e interiores destes dois povos em conflito, e que por outro, o retratam sem subterfúgios nem concessões políticas ou morais. Mais do que encontrar respostas, é preciso dar-mos espaço às várias interrogações que o cinema destes dois países por aqui nos deixam. E ainda questionarmo-nos a nós próprios sobre que olhar temos para o conflito israelo-palestiniano.
(na imagem temos a actriz Manal Khader, intérprete principal de
Intervenção Divina do palestiniano Elia Suleiman, filme que será exibido amanhã, pelas 17h, no Cine-Teatro de Alcobaça)
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