A propósito de John Ford e a propósito da "glória" em tempo de guerra que Ari Folman fala no post abaixo, fomos buscar "O Preço da Glória" (1952), filme realizado pelo primeiro e remake de um clássico com o mesmo nome de 1926, assinado então por Raoul Walsh (confessamos que não conhecemos a versão original e por isso não vamos entrar em comparações).
É curioso saber hoje que James Cagney apenas assinou contrato com a 20th Century Fox para esta produção após lhe terem garantido que seria um musical (o que nunca chegou a ser, apesar de conter várias sequências evidentemente musicais: e se alguma coisa é, o que temos aqui é um drama de guerra, onde a comédia e a música, apesar de ingredientes fortes, apenas sublinham o clima absurdo da guerra).
Como nos seus westerns, Ford está mais interessado nas suas personagens masculinas e numa certa ideia de "masculinidade" e camaradagem que transforma em muitos momentos a pequena aldeia francesa em que o regimento de James Cagney está estacionado numa cidade caótica do Velho Oeste (o café que os soldados frequentam transforma-se literalmente num saloon; e perto do fim é isso mesmo que um soldado americano lhe chama).
Até Charmaine, a "beldade local" e filha do dono do café da aldeia (interpretada por uma sensualíssima Corinne Calvet), está mais próxima da imagem das "garotas" de saloon do Velho Oeste: razão porque acaba por ser disputada pelo Capitão Flagg (James Cagney) e pelo Sargento Quint (Dan Dailey).
É a tensão entre estes dois homens que Ford capta com fascínio, sem deixar de aflorar a dimensão mais dramática do conflito militar (ainda não o tínhamos dito: estamos em pleno coração da I Guerra Mundial) e evitando qualquer crítica militarista.
Se existe crítica anti-guerra (que nos dizem ser uma das características da obra original) é no sentido em que esta corta a possibilidade do amor (simbolizado na paixão trágica vivida entre o soldado interpretado por um jovem Robert Wagner e uma estudante francesa) e a forma implacável como destrói a juventude de muitos americanos ingénuos e imberbes.
Sim, é esse o preço da glória de que Folman também deve estar a falar.
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