terça-feira, 14 de abril de 2009

Ponto de Ebulição


Em O Paraíso, Agora, a dada altura, questionado sobre o seu género preferido no cinema, Said (Kais Nashef) não só se mostra incapaz de responder como revela um total desconhecimento das implicações do termo "género" (sem deixar de demonstrar um sentido desprezo pelo próprio cinema: tudo se passa na cena em que bebe chá em casa do seu "love-interest" e depois de saber que foi escolhido para uma missão suicida). Said pergunta então à bela Suha (Lubna Azabal) se não existe um género que seja chato (parece-nos que é exactamente esta a palavra que usa); como a vida.

Hany Abu-Assad, o realizador, não deixa de colocar nesta cena uma interessante questão formal num filme que não sendo realista, procura transmitir parte da atmosfera entediante vivida pelas suas personagens nos territórios ocupados (e particularmente em Nablus, cuja pobre dimensão social se pressente). Mas O Paraíso, Agora não é um filme sobre o tédio daquele mundo (e mais perto disso até andará Intervenção Divina do compatriota Elia Suleiman), é antes um filme sobre a sua acumulação no interior das personagens.

Como a panela de café que transborda no início, plano simbólico do que está para acontecer, Assad quer captar o tempo e o percurso do "aumento da temperatura", da ebulição do tédio no sentido de uma tragédia que inevitavelmente conduz à auto-destruição. É quando a sua história chega ao ponto de ebulição que Assad pára, porque já filmou tudo o que lhe interessava filmar. O resto já conhecemos: história de mais um bombista-suicida que se fez explodir em Israel.

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